quarta-feira, 25 de abril de 2012

Matéria sobre cultura de rua com Alcalde, Veronica Amores e DJ KL Jay dos Racionais M.Cs

Papo Cultural: a efervescência da arte de rua e do cenário hip-hop

A arte de rua vive um momento efervescente na cidade de São Paulo. Em bate-papo com os artistas Emerson Alcalde, poeta da literatura marginal, Veronica Amores, grafiteira e Kl Jay, DJ que compõe o Racionais MC’s, podemos avaliar o estabelecimento da arte de rua no espaço urbano, seu fortalecimento na periferia e o alcance de um novo público através da internet.


“Dedicada a cada poeta da cidade… a cada ser humano da cidade que cultiva a liberdade no concreto da cidade…” (Kamau)

Mesmo diante do conservadorismo do governo paulistano, as manifestações artísticas das ruas têm rompido as barreiras da periferia e conquistado a grande massa da população.


O princípio…


Emerson Alcalde conta que foi num sarau que envolvia hip hop que se encontrou com a literatura marginal. “Fui ao sarau, falei minha poesia, vi as pessoas falando suas poesias e curti. Foi no SLAM (competição de poesia), isso me impulsionou e comecei a frequentar os saraus e conhecer as pessoas e mergulhar na literatura”.
“Os saraus tiveram que invadir os botecos, pois biblioteca não era lugar de poesia…” (Criolo)
Segundo Emerson, hoje temos muitos Saraus acontecendo em Bares de São Paulo, essa cena está forte e o hip hop ajudou bastante. Ele também é convidado para participar de alguns shows de rap e vai fazer participação no novo EP do Rapper Kamau que será lançado agora em 2012. Os Saraus em que está mais presente são: Sarau do Binho (Segundas, Campo Limpo), Sarau Suburbano Convicto (Terças, Bixiga), Sarau da Cooperifa (Quartas, Chácara Santo Antonio), Sarau Elo da Corrente (Quintas, Pirituba), Sarau da Brasa (Sábados, Brasilândia). Tem sarau todos os dias!


sarau Papo Cultural: a efervescência da arte de rua e do cenário hip hopEmerson Alcalde
Já Veronica Amores começou a desenhar com giz de lousa na parede do seu quarto tendo apoio dos seus pais, principalmente o pai, seu maior fã. No fim da adolescência, começou a curtir arte de rua, principalmente as colagens. Fez uns lambe-lambes com telas e se apaixonou pela serigrafia. O primeiro lambe que colou foi na Rua Rego Freitas, no Centro e depois na Rua Augusta.
Quanto ao graffiti, explica que começou a “me interessar e pintar os muros e a primeira personagem que inventei no graffiti foi a sereia, tipo uma godzila, com seu universo, uma cidade pequenininha e surgiram as nuvens nas composições que hoje é uma marca super registrada minha. E hoje minha principal personagem é a bebê sereia e seu universo, que brotou de mim após um momento de crise”.


Cena do Hip Hop


“O rap vive um novo momento, embora mentalidades e comportamentos prevaleçam, o mundo mudou com a internet e globalização” Diz Kl Jay. “Essa geração que está fazendo rap é mais jovem, disposta e com outra visão de mundo. O rap nacional quebrou barreiras, desbravou territórios, fala de vários assuntos, não só da perseguição da polícia, pobreza, racismo, embora isso ainda exista, a mentalidade está mais aberta. E músicas com qualidade, bem produzidas, o profissionalismo está mais presente. A essência do rap é a liberdade de expressão e está viva.”

djkljay01 Papo Cultural: a efervescência da arte de rua e do cenário hip hopDJ Kl Jay
E continua: “O rap foi ganhador de dois prêmios da MTV (VMB 2011), os grandes ganhadores da noite foram os rappers Emicida e Criolo, os caras estão levando multidões para os shows e as pessoas cantando todas as músicas deles. Eles trabalharam, merecem o espaço que têm. O Emicida é quem é, não só por ser bom, eu acho o Emicida fenomenal, talentoso, mas ele está onde está porque trabalhou e trabalha até hoje. O pódio deles é merecido”.
Veronica percebe esse momento de efervescência da arte de rua em SP e ao mesmo tempo um conservadorismo limitador do governo. “Já tive trabalhos apagados para serem pintados de cinza. Tem uma falta de sensibilidade, pois o governo está totalmente na contramão das manifestações artísticas que estão surgindo espontaneamente. Mas ao mesmo tempo isso faz com que os artistas tenham um efeito rebote, quanto mais se oprime, mais as pessoas fazem”.
Emerson comenta que a proximidade com o público que existe na cena alternativa fortalece o trabalho do artista. “Eu fui convidado para participar de uma feira de literatura na USP e nesse evento me deram destaque. Por incrível que pareça vendemos livros, até mais do que alguns outros escritores que não são da literatura marginal. Como somos independentes, conseguimos fazer e vender, porque as pessoas te veem falando no sarau e perguntam onde comprar o livro, daí já vendo na hora. A livraria é uma coisa meio estática. Eu acho que nossa forma de trabalho se aproxima mais das pessoas”.


Inspirações e Influências


“As inspirações são o meu bairro, minha infância, memórias, minha visão de mundo, questões sociais, graffiti e sou muito influenciado pelo teatro, Brecht, Tadeus Campos e gosto de ler Manoel de Barros”, diz Emerson.
Para Veronica, a influência vem da “Arte Sacra, fotografias antigas pintadas à mão, músicas que escuto (latinas, punk rock e ritmos jamaicanos) e é um trabalho bem autobiográfico. Gosto muito também dos grafiteiros Prozac e Ramo Martins”.


veronica01 Papo Cultural: a efervescência da arte de rua e do cenário hip hopVeronica Amores

Viver da Arte


“Tenho dois livros escritos, A Massa e O Boneco do Marcinho e participações em outros livros. Já consigo viver do meu trabalho há algum tempo, mas tem momentos que é bem complicado. Mas vendo livros, dou palestras, oficinas, faço teatro e assim tenho meu subsídio”, conta Emerson.
Para Veronica, o subsídio ainda é difícil “Eu não consigo viver do meu trabalho artístico com grafite. Está começando a rolar uns trabalhos subsidiados, como pintura de interior em casas, mas isso é exceção”.


Hip Hop no Desenvolvimento Social


Segundo Emerson, a arte o desenvolveu socialmente. “No início eu frequentava show de rap e ouvia-os dizendo que tínhamos que ler. Certa vez o Ferréz comentou que iria lançar um livro e me despertou para querer conhecer mais, ler mais. Eu tinha dificuldade para ler, então comecei a ler outros livros para depois poder ler o livro dele“, ele conta. “E isso me estimulou. ‘A Massa’ é uma poesia que fiz e que mais toca as pessoas, inclusive fiquei conhecido por ela. Teve gente que chorou e disse: ‘pô, aquela sua poesia falou sobre mim, eu estava querendo falar sobre isso e você disse’. Porque somos mais parecidos que imaginamos. Os jovens são o maior público que frequentam as oficinas de literatura e poesia. E são espaços onde eles falam o que sentem e vivem, através da poesia”.

djkljay02 Papo Cultural: a efervescência da arte de rua e do cenário hip hopDJ Kl Jay
Veronica destaca também o poder transformador da arte de rua. “Essa coisa de as pessoas se identificarem com um grupo, sentir ser alguém no mundo. Perceber que você não é só o atendente do Mc Donald’s, é um jovem que pode criar coisas, seja na dança, música, grafite. Tem essa coisa de pertencimento, de estar num grupo, ter uma forma de se expressar. Curti pintar uma viela no Capão Redondo que era horrível, eu e vários grafiteiros fomos pintar, adorei, o graffiti mudou aquele lugar”.
“Não precisamos fazer parte de alguma ONG. O que a música fala já gera reação nas pessoas”, defende Kl Jay, lembrando o desenvolvimento social que a musica proporciona. “Não pode ser uma coisa obrigatória, ‘eu tenho que fazer essa música por causa da questão social’, mas naturalmente já causa esse impacto. O hip hop resgatou os negros do mundo inteiro, resgatou a autoestima, porque é um jeito livre de ser. Faz você ter vontade de enfrentar a guerra que é o preconceito, racismo, perseguição da polícia. É importante ir numa palestra, workshop, oficina, escola, presídio, mas a música em si proporciona mudanças no comportamento e mentalidade das pessoas, combate conflitos”.


Internet


Segundo Kl Jay, a relação com o público através das redes sociais ajuda muito. “Com a internet, você está sendo visto, as pessoas te analisam, o jeito que você veste, canta, toca e gera opiniões, críticas. Eu acho demais a globalização, ajudou muito o hip hop, que está mais forte do que nunca, muitas pessoas ouvindo no mundo inteiro, shows acontecendo o tempo todo e os rappers cantando em todos os lugares”.


Arte na Periferia


Veronica conta que começou a frequentar eventos de graffiti nas periferias e nisso entendeu o poder transformador da arte, a força que tem, o que é a sua subversão. “Porque o graffiti surgiu na periferia. Você vê esse lugar totalmente abandonado pelo poder público, feio, que é a periferia, não tem paisagismo, as casas são inacabadas, o que tem de bonito é o calor humano. E você faz um graffiti, coloca uma cor e arranca as pessoas daquela realidade, do lugar comum. Os lugares que mais gosto de pintar são nos espaços abandonados, acho que o graffiti fica muito mais forte. E é isso veio do gueto e é no gueto que tem mais força”.


veronica02 Papo Cultural: a efervescência da arte de rua e do cenário hip hopVeronica Amores

Emerson define seu trabalho como Transcendência, Kl Jay diz que o RAP é a VOZ e o HIP HOP um Estilo de Vida e Verônica manda o Salve para os Grafiteiros!

Saiba mais:
www.djkljay.com
www.veronicamores.blogspot.com.br
www.emersonalcalde.blogspot.com.br

domingo, 15 de abril de 2012

Depoimento para Revista FOLHA

A convite da FOLHA SP fui a uma balada Gay e descrevi neste texto.

O texto na integra


Chego na balada The Week com meus dreads, camisetão. Na revista, o segurança encontra alguns papéis no meu enorme bolso e pede para que eu lhe entregue o restante. Tiro tudo, mas ele acha que na minha calça larga devia ter muita coisa escondida.
Peço para que verifique com atenção os tais papéis, ele abre, olha e cheira, era o pacote de pão de queijo. Bateu nas minhas costas e disse: “Você deu sorte”. Aquilo me enfureceu.
A casa, muito bem equipada, ainda não está cheia. A maioria são homens. Sou um freqüentador de bailes da periferia, onde mulher entra na faixa para atrair o maior número de pessoas para a festa, porém aqui além de pagarem, elas ainda pagam mais caro do que eles.
Mas isso não afasta algumas, que se vestem de modo muito parecido, com vestido curto e justo mostrando suas belas pernas. Para quê? Não sei. Mas, pra quem gosta, fica a dica.
O banheiro, eu diria, um tanto afrodisíaco, possui alguns mictórios, nenhum vaso sanitário, e algumas árvores e um espaço grande no fundo. Pra quê? Uh...
Na pista uns rapazes malhados, cheio de tatuagens, e alguns sem camisetas dançam ao som das músicas eletrônicas, este não é o meu som favorito, mas acho maneiro. E o fato de serem gays também não estranho, pois fiz teatro e aprendi a conviver e a respeitá-lo.
Em determinado momento, quatro gogo boys sobem nuns palquinhos levando a galera ao êxtase. Vou para o centro, acompanhado da minha namorada, desviando o olhar para não despertar falsas esperanças.
O clima, apesar da euforia, é muito tranquilo. Volto ao banheiro. A casa está lotada. E muita gente no corredor. Mas os mictórios estão desocupados, opa...
E no espaço do fundo uma espécie de quadro grego, um culto dionisíaco, um amontoado de homens se beijando e beijando outras coisas mais.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Carandiru - o massacre ainda não terminou

Fui convidado a ler o texto/manifesto do Coletivo 2 de outubro. Neste vídeo mostra como o massacre do 111 presos do Complexo Carcerário Carandiru continua.

http://vimeo.com/39846281

Projetos



Neste ano muitos projetos. A Rede Cultura Z/L ganhou o VAI - valorização de iniciativas culturais. Com o projeto Informativo Cultura Z/L.

Sarau do Burro - edição de abril

Burro é um sarau que possui um (des) formato que remete ao princípio. Não tem apresentação. Não tem palmas (não é programa de auditório). Se joga e diz a poesia. Um jogo onde a sua participação é voluntária. Uma casa de grafiteiros. Antes era na Vergueiro, espaço louco possuia grafites, pixos, telas. Vítima da especulação imobiliária tiveram que deixar o espaço. Agora na Vila Madalena rua harmonia próximo do Beco do Batman. Os muros ainda estão brancos. Confesso que me deixou desanimado. Em breve aquilo está tomado pelas inscrições urbanas. Eu sei.



OS casais reunidos. Este é dos Muros que Gritam! (Me pule rsrs)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dia do Grafite no Bixiga

Domingo colamos na rua 13 de maio no corção do Bixiga para comemorar o dia do grafite.
Representando o sarau suburbano do parceiro alessandro buzo.


                                                              Concentração



                                                        o evento é família

                                                                 O time

Slam da Guilhermina - Dia 30/03 mais fotos

Segue mais fotos
Estas são de Carla Soares e Cristina Assunção