SENHOR DA LIMPEZA
Sou o senhor da limpeza. Minha
função é tornar a cidade uma beleza. Um lugar que não exista sujeira, nem ali
nem aqui, nem lá nem cá poeira. Comigo tudo ficará puro e limpo, um campo limpo
sem Ângela, sem Miriam, sem Missionária em uma grande Olímpia. Juntarei toda a
Bela Cintra sem semita num monte azul, um paraíso igual no sul com Mariana,
Madalena, Ana e Rosa formando a árvore genealógica de ótica verde e azul. A
Liberdade será assistida da ponte estaiada acabando com a sabotagem, queimando
o canão do Brooklin Sul.
Joga água lá pra cima! Vem, vem
chegando a faxina! Varre, varre! Vou varrer! Tá me olhando assim por quê? Estou
trabalhando e você? Vá pra lá! Onde ninguém possa te ver, lá sim poderás viver!
Vou tirar da Augusta a angústia da
puta que pariu os filhos do café que agora abriga os da cana que parecem o povo
de Gana que vêm no arrasta-pé.
Na Paulista vou deixar a Bela
Vista com o branco casarão e o negro barracão vai-vai lá pro Capão com o seu
Bixigão. Só consolação, os jardins, os pinheiros, os campos belos. E uma nova
Luz com missa de Frei Caneca abençoando esse novo castelo.
Tenho que deixar essa praça sem
mancha, sem jaça. A República vai parecer Colônia. A garoa vai cair como neve
sobre cedros, igualzinho na Polônia.
As palavras de ordem são: revitalizar,
desinfetar, clarear. Uma política que realmente se diga; transparente. Aliada
com o meio ambiente em uma separação por cor, reciclando idéias arianas que o
socialismo gelou. Pela maneira mais correta e disciplinar da coleta seletiva,
também apagarão dos muros grafite e pixação e no lugar, reprodução de obras
renascentistas. E frases de Goethe e Nietzsche,
educando os leigos pobres e tristes.
As fachadas dos comércios terão
estética refinada, referência a Bauhaus e uma arquitetura fascinada. Vidraças,
cerâmica germânica. Lanches só de Hamburgo. Nas rádios, só se escutarão canções
wagnerianas ditando um novo ritmo para o avanço da raça humana.
Ruas imaculadas moradores sentirão
orgulho de residir e poder dar um passeio ver o asseio de madrugada ao lado de
pessoas polidas e bem asseadas. E para completar esse processo de
HIGIENIOPOLIZAÇÃO só faltará adotar como idioma local o ALEMÃO.
Por: Emerson ALCALDE
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