Pela primeira vez fiz uma viagem
internacional e logo de primeira para um país todo emblemático: Venezuela. E
não foi apenas uma viagem, até porque não fui a turismo e sim para
trabalho/missão/função. Fiz uma saga, uma expedição. Decidi partir próximo da data
do encontro e as passagens aéreas estavam caríssimas. E o plano alternativo foi
ir de avião até Manaus de lá pegar um ônibus até Boa Vista e trocar de ônibus
até Puerto Ordaz. Quantas horas? Melhor não contar mais de 15h quase 30h mas
isso foi o detalhe. Conheci muita gente maravilhosa que me ajudaram. Trocamos
ideias, contatos, me deram dicas e até comida. Família Osvaldo e Família Jevan,
um grande abraço.
Estava com medo de não consegui
entrar porque para entrar nesses países tem que tomar a vacina da febre
amarela. Havia tomado, porém ainda não tinha completado os dez dias
necessários. A tensão foi até a fronteira e depois dela, porém no final das
contas, nem pediram. Mas na entrada da primeira cidade Santa Elena de Uiarén um
soldado do exército venezuelano portando um fuzil entrou no ônibus e veio na
minha direção e pediu o meu passaporte. Conferiu, mas não ficou satisfeito e
depois de longa pausa me devolveu, conferiu os documentos de alguns passageiros
e antes de descer parou e me fitou.
Continuamos e muitos militares na
estrada e placas de Chávez. Chuva. O ônibus velho não conseguia subir a serra
foi capengando. Paramos para jantar, enquanto o motorista tentava resolver o
problema mecânico. Uma chuva, uma baita chuva. Já em terras vermelhas, uma
janta cara e meia boca, pagamos em bolívares que estava 4.3 com o real, quando
cambiei o dinheiro achei que estava rico, mas nada, o jantar saiu por 80
bolívares, deu no mesmo.
Em Ordaz, capital do Silicone,
chegamos mais de meia-noite. E num bar a música que tocada era Ai se eu te
pego, de Michel Teló. Tire que ir para um hotel vagabundo que custou 200
bolívares e mais o taxi. Em SP não ando de taxi, mas ali não havia opção. De
manhazinha outro taxi até o aeroporto. E veio o choque, achei que seria fácil
falar espanhol ou que entenderiam português. Nada. Ninguém entendia que precisa
de boletos para Valência. Fazia gesto bem articulados, era ridículo, falava
algumas palavras em inglês, outras em francês. Mas no final alguém pegou no meu
braço me levou ao guichê e ordenou que me vendessem as passagens. Paguei, fiz o
Check-in, dei a volta e entrei no avião, assim, não menos de 15 minutos tudo.
Hilário. E o preço menos de 100 reais, alguma coisa tinha que sair em conta. Se
fizesse o percurso de ônibus duraria mais de 15h, mas de avião apenas 45
minutos. Na entrada do avião fiz amizade com um hermano comunista o Carlos que
me perguntou sobre o Lula e a Dilma, se estavam bem eu disse que sim. Foi muito
solícito me levou onde compra os cartões telefônicos e na retirada das malas.
Estava completamente perdido. Por um momento achei que estava em Cuba, mas ao
olhar para os lados um outdoor da Coca-Cola e mais adiante um Mc Donald's.
Em Caracas peguei um ônibus velho
até o Parque Central no percurso os morros parecidos com o Rio de Janeiro,
depois um taxi até o Terminal Bandera. Um calor e um congestionamento caótico.
É impressionante como que aquele transito funciona. A gasolina é barata, quase
de graça. E os carros são enormes, tipo Landau. Evitei falar para não perceber
que era estrangeiro, me orientaram para ficar esperto em Caracas: Olha aberto e
seja duro! Ouvi isso diversas vezes. E para variar mais um taxi lotação até
Valência no carro quatro homens e uma mulher. Fui em silêncio. Perguntaram meu
nome falei de maneira seca, seguimos desogovernadamente até o motorista
perguntar se eu era gringo e tive que falar a verdade. Foi tranquilo eram
pessoas do bem. E no percurso entrando no Estado de Carabobo ainda com muita
propaganda eleitoral de Chávez uma me chamou atenção: VOCÊ ESTÁ ENTRANDO EM
TERRITÓRIO SOCIALISTA. E perguntei sobre Chávez e todos se inflamaram gritando
"Chávez" menos a garota que disse: Não. Silencio. E ela explicou que
era uma mulher revolucionária, porém não chavista. Isto foi o mote para uma calorosa
discussão ou melhor uma imposição de ideias que não se podia ser revolucionária
e não ser chavista a moça até tentou argumentar dizendo que a revolução era
maior do que isto que havia começado em Cuba etc. mas os outros foram grossos e
praticamente intimidaram a menina que permaneceu calada até o final da viagem,
duas horas.
No terminal de passageiros de
Valência não sabia ligar. Passava o cartão e discava os números e nada
acontecia. Uma senhora me ajudou, a organizadora do evento atendeu e não acreditou
que eu estava lá e veio me buscar. Uma grande emoção, pois eram tantos
empecilhos que parecia que não daria certo. Na Van estava dois grupos musicais
da Colômbia: Los Párias e La Murga. Na mesma hora fiz amizade, comecei a me
senti mais em casa.
Na pousada, que tinha uma vista
linda para as montanhas e uma piscina, fiquei no quarto com estes manos. Doidos
doidos. Gente finíssima. Me apelidaram de Ronaldinho.
E aos poucos os demais grupos e
companhias foram chegando. A comida achei que iria estranhar mais. Mas achei
saborosa. De manhã arepa ou panqueca. No almoço cada dia um prato diferente mas
com pouco variação da comida que comemos em SP. Um outro ponto que me chamou a
atenção foi as grades nos comércios, nãos e pode entrar nas adegas ou
mercadinhos, você tem que pedir e pagar do lado de fora. Até nos botequinhos
das quebradas a festa acontecia na calçada, perguntei o motivo e me responderam
que era por segurança. E outro ponto esse parecido com o Brasil, as mulheres
alisam muito o cabelo e se carregam de maquiagem no dia-a-dia e muitas usam
silicone.
O primeiro dia de evento foi um
desfile de uma sede a outra. Os grupos colocaram os seus figurinos e fizeram a
alegria da comunidade. Uma periferia parecida com São Paulo. E cada dia íamos a
uma comunidade depois nos concentramos na Praça Simon Bolívar no município de
Naguanagua. Teve muito circo teatro e grupos de percussão. Assistimos a um
filme retratando a trajetória do presidente da Bolívia e uma outra película
falando do confronto na Venezuela entre a oposição e os chavistas, grande
aprendizado histórico-político. Ficou evidente que os grupos de diversos países
se comunicam e circulam menos o Brasil. Talvez pelo idioma ou por falta de
iniciativa de ambas as partes.
A MINHA PARTICIPAÇÃO EFETIVA NO
EVENTO
A primeira participação foi num
evento na região sul de Valência sobre Diversidade tinha uma conexão com a
França era praticamente um shows de rock. Fui convocado a subir no palco para
falar. Discursei a cerca da importância de integrarmos mais o Brasil com a
América Latina a língua não pode ser uma barreira, as nossas raízes são as
mesmas e que precisamos fortalecer estes laços. Falei dos nossos trabalhos nas
periferias e favelas. fui ouvido com bastante atenção e espanto, pois várias
pessoas nunca tinham falado ou visto um brasileiro pessoalmente.
Fiz um taller (facilitador). Uma
aula aberta acerca do teatro na periferia de SP e a pedido dos grupos falei do
Teatro do Oprimido de Augusto Boal e de Paulo Freire. Não só falei fizemos na prática o Teatro
Fórum e Teatro Imagem. Eles já conhecem o Boal e tem muito interesse em
conhecer mais. apesar de não ser um especialista em Teatro do Oprimido tive a
oportunidade de fazer um curso com o próprio Boal no Teatro Ágora quando eu
dirigia um grupo de teatro na comunidade onde moro.
Fizeram perguntas a cerca da
cultura brasileira eles ignoram quase que totalmente as nossas músicas, teatro
e literatura assim como nós não conhecemos a cultura Venezuela em sua
profundidade. Ficamos também apenas do clichê.
Mostrei o livro Via Vai contando
a experiência dos grupos que ganharam o edital, a revista do Vocacional. Falei
dos CEUS. E distribui os Informativos Cultura Z/L, contemplados pelo VAI. Foi
uma troca muito rica. Aprendi e ensinei.
E em tertúlias, uma espécie de
sarau, tive que sambar e fazer freestyle, mas ali era só pra descontrair.
A VOLTA
E o caminho da volta não foi
fácil. Assim como na trajetória do herói, ainda tem a volta.
A produção da Entepola me deixou
no aeroporto de Caracas. Peguei um avião barulhento, parecia ser muito antigo
por dentro, banco de couro. Dei risada. Eu tinha que passar por aquilo. O pouso
um impacto forte no chão, as crianças vibraram e eu suando. Mas o pior estava
por vir. Outro taxi até a rodoviária de Puerto Ordaz e não encontro passagens.
Nenhuma das três companhias tinha vagas. Precisa ir para Santa Elena, na divisa
com o Brasil, dali estaria perto. Me bateu o desespero. Era umas 14h e os
ônibus saiam por volta das 21h. Sentei já não sabia o que fazer. Encontrei o
Osvaldo que havia conhecido em Boa Vista ele estava voltando das Ilhas
Margaritas tinha comprado às passagens porem estava com problemas para
retirá-las.
Um ônibus encostou umas 16h
dizendo que tinha vaga perguntei se ia para Santa Elena ele disse que não, mas
que iria depois e demostrei o meu desespero e a agonia de ter que ir naquele
dia, pois tinha voo em Manaus no dia 28 a tarde se perdesse não teria como
voltar pra casa. Ele disse: você vai com a gente. Me animou, mas mesmo assim
não sabia como. 20h ele chegou, eu estava aflito. Todos colocaram as malas em
baixo e estavam na revista quando ele de surdina em chamou e colou rapidamente
minha mala e mandou que eu entrasse no bus, furando a revista, no corredor um
sujeito me cobrou o dinheiro, paguei o valor das passagens para ele e entrei.
Ele improvisou um banquinho no fundo e fui sentando durante 11h, fui feliz,
rezei muito.
Antes de chegar à cidade outra
revista. Essa geral mandou abria as maladas e fez perguntas, mas foi mais
suave. Em Santa Elena peguei outro taxi coletivo até a fronteira. Carimbei o
passaporte do lado ainda da Venezuela e atravessei a pé um alivio tão grande
quando cheguei a parte brasileira indescritível. Brasil, as pessoas falando
português, ufa. Cambiei os poucos bolívares em pouquíssimos reais e peguei o
último taxi, já perdi a conta de quantos taxis peguei. Mais 2h de viagem e em
Boa Vista o saímos na rota para deixar um pessoal na periferia da cidade. Um
role bairro adentro enorme e um sol escaldante. Em Boa vista comprei as últimas
duas passagens que restavam. E esperei de chinelo pelo centro até dar a hora.
Cheguei em Manaus 5h30 da manhã, foram 10h horas de viagem. Mas o meu avião só
saía as 15h45. Deixei as malas no guarda-volumes do aeroporto e fui dar uma
volta pelo centro histórico Manaus e visitei o Teatro Amazônia. Comi uma
merenda. Fui até o Shopping Amazônia e almocei. Voltei para o aeroporto e o voo
atrasou. Em SP quase 22h. E mais um ônibus para casa na zona leste Cangaíba. Um
abraço forte em minha mãe e um banho, fazia quase 3 dias sem banho e uma janta
da mama e dormi, exausto.
Graffiti no muro da sede da Entepola no municipio de Naguanagua
Chegando em Valência com os manos de Bogotá
Este boliviano é uma figura. Alegria alegria o tempo todo.
Acordar com esta vista não tem preço
Um mano da Venezuela que foi no seminário segura o Informativo Cultura Z/LFamília Guevara
O vôo. Não vou mentir tremi na base.
Taller sobre Teatro do Oprimido
Representando o Brasil
Keynitin, organizadora do evento
Passando pela fronteira. Um frio
A turma de Colombia e da Argentina
Teatro Amazônia