terça-feira, 31 de julho de 2012

Entepola Venezuela 2012 - um brasileiro no encontro

Em uma grande experiência o risco é inerente! Joseph Campbell concordo contigo, porém não sou nenhum herói, mas tenho minha trajetória e aqui relatarei um pouco.
Pela primeira vez fiz uma viagem internacional e logo de primeira para um país todo emblemático: Venezuela. E não foi apenas uma viagem, até porque não fui a turismo e sim para trabalho/missão/função. Fiz uma saga, uma expedição. Decidi partir próximo da data do encontro e as passagens aéreas estavam caríssimas. E o plano alternativo foi ir de avião até Manaus de lá pegar um ônibus até Boa Vista e trocar de ônibus até Puerto Ordaz. Quantas horas? Melhor não contar mais de 15h quase 30h mas isso foi o detalhe. Conheci muita gente maravilhosa que me ajudaram. Trocamos ideias, contatos, me deram dicas e até comida. Família Osvaldo e Família Jevan, um grande abraço.
Estava com medo de não consegui entrar porque para entrar nesses países tem que tomar a vacina da febre amarela. Havia tomado, porém ainda não tinha completado os dez dias necessários. A tensão foi até a fronteira e depois dela, porém no final das contas, nem pediram. Mas na entrada da primeira cidade Santa Elena de Uiarén um soldado do exército venezuelano portando um fuzil entrou no ônibus e veio na minha direção e pediu o meu passaporte. Conferiu, mas não ficou satisfeito e depois de longa pausa me devolveu, conferiu os documentos de alguns passageiros e antes de descer parou e me fitou.
Continuamos e muitos militares na estrada e placas de Chávez. Chuva. O ônibus velho não conseguia subir a serra foi capengando. Paramos para jantar, enquanto o motorista tentava resolver o problema mecânico. Uma chuva, uma baita chuva. Já em terras vermelhas, uma janta cara e meia boca, pagamos em bolívares que estava 4.3 com o real, quando cambiei o dinheiro achei que estava rico, mas nada, o jantar saiu por 80 bolívares, deu no mesmo.
Em Ordaz, capital do Silicone, chegamos mais de meia-noite. E num bar a música que tocada era Ai se eu te pego, de Michel Teló. Tire que ir para um hotel vagabundo que custou 200 bolívares e mais o taxi. Em SP não ando de taxi, mas ali não havia opção. De manhazinha outro taxi até o aeroporto. E veio o choque, achei que seria fácil falar espanhol ou que entenderiam português. Nada. Ninguém entendia que precisa de boletos para Valência. Fazia gesto bem articulados, era ridículo, falava algumas palavras em inglês, outras em francês. Mas no final alguém pegou no meu braço me levou ao guichê e ordenou que me vendessem as passagens. Paguei, fiz o Check-in, dei a volta e entrei no avião, assim, não menos de 15 minutos tudo. Hilário. E o preço menos de 100 reais, alguma coisa tinha que sair em conta. Se fizesse o percurso de ônibus duraria mais de 15h, mas de avião apenas 45 minutos. Na entrada do avião fiz amizade com um hermano comunista o Carlos que me perguntou sobre o Lula e a Dilma, se estavam bem eu disse que sim. Foi muito solícito me levou onde compra os cartões telefônicos e na retirada das malas. Estava completamente perdido. Por um momento achei que estava em Cuba, mas ao olhar para os lados um outdoor da Coca-Cola e mais adiante um Mc Donald's.
Em Caracas peguei um ônibus velho até o Parque Central no percurso os morros parecidos com o Rio de Janeiro, depois um taxi até o Terminal Bandera. Um calor e um congestionamento caótico. É impressionante como que aquele transito funciona. A gasolina é barata, quase de graça. E os carros são enormes, tipo Landau. Evitei falar para não perceber que era estrangeiro, me orientaram para ficar esperto em Caracas: Olha aberto e seja duro! Ouvi isso diversas vezes. E para variar mais um taxi lotação até Valência no carro quatro homens e uma mulher. Fui em silêncio. Perguntaram meu nome falei de maneira seca, seguimos desogovernadamente até o motorista perguntar se eu era gringo e tive que falar a verdade. Foi tranquilo eram pessoas do bem. E no percurso entrando no Estado de Carabobo ainda com muita propaganda eleitoral de Chávez uma me chamou atenção: VOCÊ ESTÁ ENTRANDO EM TERRITÓRIO SOCIALISTA. E perguntei sobre Chávez e todos se inflamaram gritando "Chávez" menos a garota que disse: Não. Silencio. E ela explicou que era uma mulher revolucionária, porém não chavista. Isto foi o mote para uma calorosa discussão ou melhor uma imposição de ideias que não se podia ser revolucionária e não ser chavista a moça até tentou argumentar dizendo que a revolução era maior do que isto que havia começado em Cuba etc. mas os outros foram grossos e praticamente intimidaram a menina que permaneceu calada até o final da viagem, duas horas.
No terminal de passageiros de Valência não sabia ligar. Passava o cartão e discava os números e nada acontecia. Uma senhora me ajudou, a organizadora do evento atendeu e não acreditou que eu estava lá e veio me buscar. Uma grande emoção, pois eram tantos empecilhos que parecia que não daria certo. Na Van estava dois grupos musicais da Colômbia: Los Párias e La Murga. Na mesma hora fiz amizade, comecei a me senti mais em casa.
Na pousada, que tinha uma vista linda para as montanhas e uma piscina, fiquei no quarto com estes manos. Doidos doidos. Gente finíssima. Me apelidaram de Ronaldinho.
E aos poucos os demais grupos e companhias foram chegando. A comida achei que iria estranhar mais. Mas achei saborosa. De manhã arepa ou panqueca. No almoço cada dia um prato diferente mas com pouco variação da comida que comemos em SP. Um outro ponto que me chamou a atenção foi as grades nos comércios, nãos e pode entrar nas adegas ou mercadinhos, você tem que pedir e pagar do lado de fora. Até nos botequinhos das quebradas a festa acontecia na calçada, perguntei o motivo e me responderam que era por segurança. E outro ponto esse parecido com o Brasil, as mulheres alisam muito o cabelo e se carregam de maquiagem no dia-a-dia e muitas usam silicone.
O primeiro dia de evento foi um desfile de uma sede a outra. Os grupos colocaram os seus figurinos e fizeram a alegria da comunidade. Uma periferia parecida com São Paulo. E cada dia íamos a uma comunidade depois nos concentramos na Praça Simon Bolívar no município de Naguanagua. Teve muito circo teatro e grupos de percussão. Assistimos a um filme retratando a trajetória do presidente da Bolívia e uma outra película falando do confronto na Venezuela entre a oposição e os chavistas, grande aprendizado histórico-político. Ficou evidente que os grupos de diversos países se comunicam e circulam menos o Brasil. Talvez pelo idioma ou por falta de iniciativa de ambas as partes.

A MINHA PARTICIPAÇÃO EFETIVA NO EVENTO
A primeira participação foi num evento na região sul de Valência sobre Diversidade tinha uma conexão com a França era praticamente um shows de rock. Fui convocado a subir no palco para falar. Discursei a cerca da importância de integrarmos mais o Brasil com a América Latina a língua não pode ser uma barreira, as nossas raízes são as mesmas e que precisamos fortalecer estes laços. Falei dos nossos trabalhos nas periferias e favelas. fui ouvido com bastante atenção e espanto, pois várias pessoas nunca tinham falado ou visto um brasileiro pessoalmente.
Fiz um taller (facilitador). Uma aula aberta acerca do teatro na periferia de SP e a pedido dos grupos falei do Teatro do Oprimido de Augusto Boal e de Paulo Freire.  Não só falei fizemos na prática o Teatro Fórum e Teatro Imagem. Eles já conhecem o Boal e tem muito interesse em conhecer mais. apesar de não ser um especialista em Teatro do Oprimido tive a oportunidade de fazer um curso com o próprio Boal no Teatro Ágora quando eu dirigia um grupo de teatro na comunidade onde moro.
Fizeram perguntas a cerca da cultura brasileira eles ignoram quase que totalmente as nossas músicas, teatro e literatura assim como nós não conhecemos a cultura Venezuela em sua profundidade. Ficamos também apenas do clichê.
Mostrei o livro Via Vai contando a experiência dos grupos que ganharam o edital, a revista do Vocacional. Falei dos CEUS. E distribui os Informativos Cultura Z/L, contemplados pelo VAI. Foi uma troca muito rica. Aprendi e ensinei.
E em tertúlias, uma espécie de sarau, tive que sambar e fazer freestyle, mas ali era só pra descontrair.

A VOLTA
E o caminho da volta não foi fácil. Assim como na trajetória do herói, ainda tem a volta.
A produção da Entepola me deixou no aeroporto de Caracas. Peguei um avião barulhento, parecia ser muito antigo por dentro, banco de couro. Dei risada. Eu tinha que passar por aquilo. O pouso um impacto forte no chão, as crianças vibraram e eu suando. Mas o pior estava por vir. Outro taxi até a rodoviária de Puerto Ordaz e não encontro passagens. Nenhuma das três companhias tinha vagas. Precisa ir para Santa Elena, na divisa com o Brasil, dali estaria perto. Me bateu o desespero. Era umas 14h e os ônibus saiam por volta das 21h. Sentei já não sabia o que fazer. Encontrei o Osvaldo que havia conhecido em Boa Vista ele estava voltando das Ilhas Margaritas tinha comprado às passagens porem estava com problemas para retirá-las.
Um ônibus encostou umas 16h dizendo que tinha vaga perguntei se ia para Santa Elena ele disse que não, mas que iria depois e demostrei o meu desespero e a agonia de ter que ir naquele dia, pois tinha voo em Manaus no dia 28 a tarde se perdesse não teria como voltar pra casa. Ele disse: você vai com a gente. Me animou, mas mesmo assim não sabia como. 20h ele chegou, eu estava aflito. Todos colocaram as malas em baixo e estavam na revista quando ele de surdina em chamou e colou rapidamente minha mala e mandou que eu entrasse no bus, furando a revista, no corredor um sujeito me cobrou o dinheiro, paguei o valor das passagens para ele e entrei. Ele improvisou um banquinho no fundo e fui sentando durante 11h, fui feliz, rezei muito.
Antes de chegar à cidade outra revista. Essa geral mandou abria as maladas e fez perguntas, mas foi mais suave. Em Santa Elena peguei outro taxi coletivo até a fronteira. Carimbei o passaporte do lado ainda da Venezuela e atravessei a pé um alivio tão grande quando cheguei a parte brasileira indescritível. Brasil, as pessoas falando português, ufa. Cambiei os poucos bolívares em pouquíssimos reais e peguei o último taxi, já perdi a conta de quantos taxis peguei. Mais 2h de viagem e em Boa Vista o saímos na rota para deixar um pessoal na periferia da cidade. Um role bairro adentro enorme e um sol escaldante. Em Boa vista comprei as últimas duas passagens que restavam. E esperei de chinelo pelo centro até dar a hora. Cheguei em Manaus 5h30 da manhã, foram 10h horas de viagem. Mas o meu avião só saía as 15h45. Deixei as malas no guarda-volumes do aeroporto e fui dar uma volta pelo centro histórico Manaus e visitei o Teatro Amazônia. Comi uma merenda. Fui até o Shopping Amazônia e almocei. Voltei para o aeroporto e o voo atrasou. Em SP quase 22h. E mais um ônibus para casa na zona leste Cangaíba. Um abraço forte em minha mãe e um banho, fazia quase 3 dias sem banho e uma janta da mama e dormi, exausto.

                                 Graffiti no muro da sede da Entepola no municipio de Naguanagua
                                       Chegando em Valência com os manos de Bogotá
                                          Este boliviano é uma figura. Alegria alegria o tempo todo.
Acordar com esta vista não tem preço
                      Um mano da Venezuela que foi no seminário segura o Informativo Cultura Z/L
 
                                                         Família Guevara
                                             O vôo. Não vou mentir tremi na base.
                                                        Taller sobre Teatro do Oprimido
                                                          Representando o Brasil
                                                  Keynitin, organizadora do evento
                                                    Passando pela fronteira. Um frio
A turma de Colombia e da Argentina
Teatro Amazônia

4 comentários:

  1. Só faltou a camisa do Santos fc, nosso peixe, mas tem nada não você fez a diferença sucesso cara, valeu!

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  2. Parabéns hermano Emerson Alcalde. Conhecemos um pouco de sua história dentro do Teatro e dentro da Cultura do Hip Hop em SP.

    Ter levado sua experiência e de tantos outros daqui do Brasil pra Venezuela é nítido sua vontade de diminuir esta distância surreal entre nosso país e a América Latina.

    Vamos assumir nossa identidade e nossa soma com quem esta ao nosso lado, nossos hermanos e hermanas.

    Parabéns cara, parabéns mesmo.

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  3. Sou fã do ALCAEDA. Representou de camisa do FAVELA TOMA CONTA no hotel.

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  4. Meus Lemons-Parabénzzz, Brother Alcade por mais esse trampo e também pelos exelentes poemas no CD do Kamau !!! 1 Lemon-Abração, manooooo !!!

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